Este não é um post feliz

Muitas pessoas reclamam do ano de 2016. Muita coisa ruim aconteceu para muita gente. De fato foi um ano difícil não só para o nosso país como para o mundo.

Em se tratando de um nível mais pessoal eu não sei como eu cheguei até aqui. Foi o ano em que perdi minha mãe.

Exatamente dez anos depois de ter perdido meu pai de uma forma trágica, um acidente de avião horrível que mudou para sempre nossas vidas, desses que só achamos que acontece com as outras pessoas, eu perdi minha mãe de uma forma horrorosa.

Ela teve câncer de ovário. Uma doença horrível que a  levou embora depois de muito sofrimento em apenas seis meses. Uma doença que eu corro o risco de ter também por hereditariedade. Uma doença que eu sequer posso contar para vocês o estado em que ela ficou, as coisas pelas quais ela passou, sem que os deixem tão traumatizados como eu fiquei.

Ela sempre foi uma mulher forte, decidida e divertida. Eu queria ser igual a ela quando eu crescesse. Minha mãe, minha melhor amiga. Durante todo o tratamento de quimio ela se manteve animada e certa de que ia se curar. Por ela eu larguei toda a minha vida pra cuidar dela nos piores momentos. Tive ajuda de duas amigas queridas. Uma noite sim, uma noite não, eu dormia no sofázinho do hospital ao lado do leito dela. E passava todos os dias lá com ela, indo em casa só para tomar um banho e dormir uma noite sim, uma noite não. As noites eram as piores. Junto com ela eu parei de comer. Simplesmente não podia comer vendo-a deitada naquela cama de hospital podendo se alimentar somente com poucos líquidos. As noites eram as piores, eram passadas em claro. Ela sofreu demais, meu Deus! E como eu desejei trocar de lugar com ela em todos os momentos. Como eu rezei por um milagre, desejando tirar um cochilo e acordar com ela curada. Ao mesmo tempo assombrada de ela me deixar em qualquer um daqueles momentos.

Nada do que eu fazia parecia adiantar. Ela pedia pra ir pra casa, mas isso eu não podia fazer. Como me doía cada vez que ela pedia isso. Como me desesperava cada vez que ela vomitava. Ela não merecia nada daquilo. Sempre ajudou a todos. Sempre cuidou de todos. E quando eu tive a chance de cuidar dela eu não fui capaz de salva-la.

Eu precisei me ausentar um dia para resolver umas coisas e prometi a ela que voltaria no dia seguinte. Eu estava tão aflita. Eu não queria sair de perto dela, mas responsabilidades com o trabalho me chamaram. Eu só saí do lado dela quando ela com toda a dificuldade disse “Tudo bem” e depois me deu tchau. A deixei com o coração apertado, mas com toda a família do lado dela. E foi justamente naquela noite que ela decidiu partir.  Eu não estava lá. Nem a família. Todos tinham ido para casa descansar e quem ficou com ela foi minha cunhada amada que me ajudou nos cuidados com ela. E ela se foi, durante a noite, cercada de carinho de uma pessoa que a amava tanto.

Meu irmão me avisou por telefone, eu senti meu coração se despedaçar. Minha mãe não quis desistir de viver conosco perto dela. Precisou que eu e meu irmão nos afastássemos pra poder descansar. Nós a enterramos no dia do aniversário do meu irmão.  De mãos dadas seguimos o cortejo. E ele me disse o quanto tivemos sorte na vida de ter tido pais tão maravilhosos. E tivemos mesmo.  A noite saímos com amigos para comemorar o aniversário do meu irmão pois sabíamos que ela queria isso. Por ela.

Esse será meu primeiro natal sem ambos os meus pais. E de alguma forma eu pressenti que o do ano passado fosse o último com ela. Dói. Me sinto assustada e sozinha muitas vezes. E, eu sei que é infantil da minha parte, mas como é que o mundo pode seguir adiante enquanto tem gente sofrendo dores assim. Quando foi que nos tornamos tão egoístas e indiferentes aos sofrimentos de quem está perto e nos sensibilizando apenas com aquilo que está distante de nós. Quando foi que nos tornamos solidários apenas da boca pra fora?

Eu não desejo a ninguém o que minha família passou este ano. Eu só desejo encontrar uma maneira de seguir adiante, me readaptar, reaprender a viver. E por enquanto ainda não consegui. Mas vou fingindo estar tudo bem até que um dia isso seja verdade.

Espero que o ano de vocês tenha sido melhor do que o meu.

 

3 thoughts on “Este não é um post feliz

  1. Lilian Raquel says:

    Quando se trata de nossos pais, nós sempre nos sentiremos crianças desamparadas, mas na verdade eles estão nos amparando e muitas vezes nos prepararam para o momento sem eles. As vezes eu apê as gosto de pensar que é uma distância física, assim como muitos anos eu estive morando em SP e minha mãe no MT, continuo pensando que estamos apenas separadas fisicamente…E que agora para falar com ela basta eu falar com meu coração e se ouvir com bastante atenção sei que o conselho dela vai vir a tona. Esse ano não foi nada fácil, mas ele também te deu um sobrinho afilhado para te dar novos sorrisos. Amamos você!!!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.