Sandman – e a elegância de Neil Gaiman

Sandman - Netflix
Divulgação: Netflix

Eu confesso que não li Sandman. Como fã de quadrinhos, tive contato sim, porém não me liguei muito na obra, já que na época eu era mais ligada em quadrinhos de X-Men e outros heróis. Então, não dei a devida e merecida atenção. E talvez nem tivesse a maturidade necessária para entender a profundidade do que a HQ propunha. Assim, assisti à série da Netflix sem expectativas, mas de coração completamente aberto para ver a obra de Neil Gaiman adaptada ao audiovisual. E devo dizer que fui surpreendida positivamente.

Neil Gaiman

Todos sabem quem é Neil Gaiman e falar sobre este incrível autor é chover no molhado. Claro que você conhece Deuses Americanos (que recentemente foi adaptado para uma série da Prime ainda que sem o envolvimento do autor) e provavelmente já ouviu falar de Good Omens (também recentemente adaptada como série, porém com envolvimento de Gaiman). E talvez você saiba até que o autor interage constantemente com os fãs no twitter e é um cara muito gente boa.

E por que isso é importante? Porque Neil Gaiman está completamente envolvido na produção da Netflix e dá pra ver isso claramente em Sandman. Quem conhece pelo menos por alto o trabalho de Gaiman, consegue enxergar na série a identidade do autor. A narrativa de Gaiman é única, e seus questionamentos filosóficos são fascinantes. O texto de Neil Gaiman é de uma elegância admirável para abordar assuntos como a Morte, por exemplo.

O que é Sandman?

Sandman, como citado acima, bem é uma HQ, ou Graphic Novel de autoria de Neil Gaiman que faz parte da Vertigo, uma linha editorial da DC voltado para um público mais adulto. Nesse universo Vertigo, existem personagens como John Constantine, Monstro do Pantano, Watchman entre outros. São histórias com temas geralmente mais pesados. A HQ Sandman teve 75 publicações entre os anos 1988 e 1996, contando com mais ou menos 10 arcos.

Sandman, interpretado pelo ator Tom Sturridge, é o personagem principal do quadrinho que leva seu nome e ele é a personificação antropomórfica de um aspecto comum a todos os seres vivos. Também conhecido como Morpheus, Devaneio ou Sonho, ele é governante do reino Sonhar. E a ideia de Gaiman nesse universo imaginado por ele é que todos vamos para esse reino quando estamos dormindo. Sonho é o rei dos sonhos e também pesadelos. Ele governa também nossos devaneios e sonhos que desejamos realizar.

Sandman tem seis irmãos, os Perpétuos: Destino, Morte, Destruição, Desejo, Desespero e Delírio. Apenas Morte, Desejo (Mason Alexander Park) e Desespero (Donna Preston), além do próprio Sonho aparecem na série nesta primeira temporada.

Sandman - Vertigo - DC Comics - Perpétuos
Sandman da Vertigo

A série começa com o próprio Sonho nos contando como ele foi capturado por um poderoso ocultista chamado Rodderick Burgess (Charles Dance). Ele passa anos enclausurado e as consequências disso para o mundo dos humanos e para o seu próprio reino Sonhar. Quando ele finalmente consegue se libertar, ele vai em busca de seus objetos de poder que lhes foram tirados enquanto em cárcere.

Texto e abordagens elegantes

Morte

Voltando ao assunto Morte, um dos meus episódios favoritos da primeira temporada é aquele que nos apresenta uma das irmã do perpétuo Sonho, a Morte. O episódio é de uma delicadeza incomparável. A Morte, vivida pela atriz Kirby Howell-Baptiste que você talvez se lembre dela da belíssima série The Good Place, é carinhosa e empática e traz importantes reflexões ao então amargurado Sandman, lembrando-o o porquê deles existem.

A ideia de uma morte como uma entidade amigável nunca havia me passado pela cabeça. Geralmente, a morte é representada como algo frio e assustador. Mas em Sandman ela é o extremo oposto disso. Ela existe desde que o primeiro ser vivo surgiu e estará presente quando o último deixar de viver. Entendendo isso, ela percebe que seu trabalho – o de ajudar as pessoas a desencarnarem e os encaminhar para o que quer que venha depois – nunca é um trabalho solitário.

Ela sempre acompanha aqueles que precisam, prontos ou não, a passar para o próximo estágio. Por entender também esse medo de morrer que nós humanos temos, ela decide em um determinado ponto de sua existência que o melhor que ela poderia fazer é oferecer um sorriso amigo e acalmar, acolhendo a pessoa que está morrendo. Isso me tocou profundamente. Uma morte acolhedora. Quem de nós não aprecia ser bem tratado, principalmente em um momento difícil, não é mesmo?

Morte e Sonho
Divulgação: Netflix

Lúcifer

Outro momento que me impressionou muito foi o embate entre Sonho e Lúcifer Morningstar. Sonho se vê obrigado a duelar com Lúcifer para reaver um dos seus objetos de poder, seu capacete que está em posse de um demônio. Atriz Gwendoline Christie é quem interpreta um Lúcifer extremamente elegante e erudito e apenas em sua variação de micro expressões vemos o quão forte e imponente ela é. O duelo dos dois é de uma beleza imensurável que nada tem a ver com agressão física ou verbal. É um belíssimo duelo de palavras no qual quem vence é aquele que apresenta o conceito mais forte.

Lúcifer e Sonho
Divulgação: Netflix

E há algo mais forte que a esperança?

Fotografia

Além da trama envolvente e diálogos elegantes, a fotografia é belíssima. Depois de assistir alguns vídeos e dar uma olhada nas imagens dos quadrinhos em si, descobri que muitos dos diálogos e cenas da série são iguais aos dos quadrinhos. Isto me encantou sobremaneira. Fiquei realmente encantada, não apenas com o conteúdo, mas também com todo o visual da série, incluindo alguns ângulos que me causaram certa estranheza, mas que quando olhei a imagem dos quadrinhos imediatamente entendi a escolha do diretor para a cena em si.

Representação

Talvez não seja óbvio para a maioria das pessoas, mas eu gostaria de lembrar uma coisa que considero bastante importante. Cada Perpétuo é uma manifestação antropomórfica de conceitos inerentes a todos os seres vivos, correto? Por esta razão, cada ser vivo irá enxergar cada Perpétuo de acordo com suas próprias crenças. Ou seja, é completamente estúpido criar polemicas como a que houve envolvendo a atriz escalada para interpretar a Morte pelo simples fato dela ser negra. Isso aqui é puro racismo. Dito isto, não discutirei aqui tolices como esta. Ou como a escolha de um Desejo não-binário, pois a essência do personagem em si é essa e o próprio autor quem escalou essas pessoas para viverem seus personagens.

Fora isso quero ouvir de você o que você achou da série!

Você assistiu Sandman? O que mais gostou? O que menos gostou? Deixe nos comentários que eu quero saber e vamos conversar!

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